A reforma tributária é, sem dúvida, um dos assuntos mais relevantes para o ambiente de negócios no Brasil. E embora a discussão costume girar em torno das questões técnicas, legais e estruturais, há um ponto que merece cada vez mais atenção: o impacto direto que essa transformação terá sobre as pessoas dentro das empresas.
Augusto Flores, vice-presidente de gestão tributária do Grupo Volvo para a América Latina, é uma das vozes mais experientes e respeitadas nesse debate. Com mais de 30 anos de atuação no setor, ele traz uma perspectiva que vai além dos números e das normas. No Robert Half Talks, em conversa com Vitor Silvério e Rafael Assenoff, da área de Parcerias Estratégicas da Robert Half, Flores destacou que a reforma tributária representa uma mudança de paradigma também na forma como as empresas estruturam seus times e preparam seus talentos.
“Esse momento é um momento único na história da gestão tributária no Brasil”, afirmou Flores logo no início do episódio. Desde os anos 1960, o país clama por uma reforma consistente e, agora, com a consolidação das propostas e cronograma de implementação até 2032, o desafio passa a ser como as empresas vão reagir – e se preparar – para esse novo cenário.
[Música] Sejam bem-vindos a mais um episódio do Robert Half Talks. Eu sou o Víor Silvério e no episódio de hoje, eu e meu colega Rafael Assenof recebemos Augusto Flores para conversar mais sobre o impacto da reforma tributária no capital humano das empresas. Seja bem-vindo, Rafa. Um prazer estar aqui com vocês, pessoal, nesse momento único pro Brasil. Um prazer estar aqui com você, Víor. Um prazer, Augusto, estar aqui com você também. Vamos para um papo bem relevante, não só no aspecto de tributos, mas também no aspecto de pessoas. Nosso convidado Augusto Flores é vice-presidente de gestão tributária do grupo Volvo. Com mais de 30 anos de experiência na área, está sempre atualizado no tema e contribuindo para debate sobre gestão tributária em diversos contextos. Seja muito bem-vindo, Augusto. Obrigado, Víor. Obrigado, Rafael. Obrigado Robert RF pelo convite e parabenizar vocês por essa iniciativa que é muito importante aí para todo o mercado, não apenas tributário, mas o mercado de executivo de uma maneira geral, esse momento que o Brasil passa aí por grandes reformas, especialmente tributárias. É muito importante a gente estar debatendo esse tema a todo instante. Augusto, obrigado por topar, conversar conosco sobre esse tema tão urgente e tão importante, né? Eh, bom, como eu falei, você tem 30 anos de experiência na área. Eh, você acredita que em algum momento da sua carreira, eh, esse tema de tex a área de texou por um desafio tão complexo quanto esse que a gente vai passar pelos próximos anos? Não, absolutamente. Eh, realmente esse momento é um momento único, né, na na história da gestão tributária no Brasil. E veja você que desde a década de 60 eh, o Brasil já pedia lá por uma reforma tributária. a gente andou ali toda década de 70, 80, eh, clamando por uma reforma tributária, sempre achou que ela ia vir em nos anos 90 mudanças ali muito mais eh tímidas, como foi o caso da tributação em base universais, a a parte de eh isentar ali o o a o o dividendo, né, da parte de imposto de renda. Então, desde então, o Brasil deixou de tributar ali eh o dividendo eh para fins de imposto de renda. No iníciozinho dos anos 2000, veio a mudança completa ali de PIS e COFINS. Eh, depois a gente passou ali por mudanças importantes na parte contábil, eh, RTT, IFRS, mas de fato agora esses anos ali de 2022, eu acho que é muito influenciado pelo que acontece no mundo, né, o chamado taxfirare, a necessidade das companhias tratarem com a transparência na gestão tributária, gestão de incentivos tributários, a locação de investimentos visavis incentivos tributários capturados. Isso eh trouxe desafios para as grandes empresas do ponto de vista da reputação, né? Então, o Brasil eh desde então passou a a querer se alinhar as boas práticas globais. Eh, em 2023 veio, né, a adoção inicial de preço de transferência opcional, 24 mandatória e agora 25 as empresas organizando por uma reforma tributária que vai ter uma transição longa até dezembro de 32. Então, é um momento de muita mudança eh no setup tributário das empresas, o que significa mudança completa de contratos, de margens, de lucro. E por consequência o profissional da área tributária, ele tende a acompanhar essa mudança. E eu costumo dizer que eh provocando os profissionais, né? Senão nós quem? Senão agora, quando, né? Eu acho que essa é a mudança que tá no cardápio aí das grandes organizações. Muito bacana, Augusto. Uau, que aula, hein, que introdução nesse primeiro muito bacana. Eh, tendo em vista que de fato é um momento único, né, como você disse aí, muitas décadas pensando nessa reestruturação tributária no Brasil. Vamos pensar agora na no aspecto humano, no capital humano. Na nossa pesquisa da Robert Heff, mais da metade das empresas admitiram estarem despreparadas para as mudanças que vão ocorrer. Nesse cenário, o que que você acha que são os principais riscos de se fazer uma análise tardia em relação à preparação para a reforma tributária? Ótima pergunta, Rafael. Acho que antes de de te responder objetivamente, a gente precisa fazer uma análise sobre por que 50% das empresas não se sentem preparadas. Eu acho que o o profissional tributário ele se notabilizou sempre como aquele profissional que ficava numa salinha climatizada esperando colegas do comercial, da logística, de compras, da manufatura entrarem na sala dele com dúvidas. E ele era aquele profissional mais erudito, que não falava muito a linguagem dos negócios, não era muito próximo ao negócio, era aquele profissional que ficava muito técnico, muito especialista, lidando com legislação tributária a todo instante e até se orgulhava por essa erudição. E, e agora eu acho que o profissional de gestão tributária, ele precisa eh se transformar falando mais a linguagem de negócio, sendo um business partner propriamente dito. Ele precisa ter e aumentar o repertório dele de soluções, ele precisa ser mais culto, ele precisa falar mais simples, ele precisa entender que comunicação tem que ser focada na audiência, né? Então, eh, eu, eu diria o seguinte, Rafael, as empresas elas tão tão percebendo isso tardiamente. Realmente é uma responsabilidade do gestor tributário que não fez o dever de casa lá atrás. Mas agora a gente tem diante de nós uma oportunidade para não apenas trazer, né, a gestão tributária realmente pra ordem do dia, pra mesa dos grandes conselhos, os boardes, o trazer realmente pra agenda do acionista, eh, dando protagonismo a esse gestor tributário, o que significa dizer que o gestor tributário que conhece tributos, conhece contabilidade, conhece finanças, precisa conhecer de negócio, precisa conhecer de gente, ele tem todas as condições, todas as ferramentas para incrementar esse repertório e sim sentar nas grandes cadeiras de gestão. Acho que o grande risco, portanto, das empresas que estão tardiamente chegando essa conclusão não é nem o preço mais alto, né? Todo mundo fala isso. Poxa, quem contratar tardamente eh vai ter honorários elevados. Eu acho que não, Rafael. Eu acho que é pior do que isso. Eu acho que aquelas empresas que eh não acordaram ainda para essa transformação profunda que o Brasil tá passando, elas têm um risco de um iato de talentos. Realmente você não ter talentos no mercado para contratar. Eu venho falando bastante disso. O mercado já vem vivendo uma espécie de um ambiente de rouba mononte. Então a empresa A contrata na empresa B, que contrata empresa C, que contrata da empresa D. a consultoria vai lá e contrata nas empresas, a empresa vai lá e contrata na consultoria, que é um jogo de soma zero, um jogo que ninguém ganha. E e nesse momento, realmente os profissionais da área tributária em conjunto com seus departamentos de people and culture precisam realmente investir em treinamento, investir em pessoas, dar esse banho de loja, né, pro profissional da área tributária para que esse modelo possa ser sustentável até dezembro de 32. E além disso, né? Muito bacana. Bacana, Augusto. Bom que você tá facilitando aqui pra gente, porque você já tá trazendo muita informação muito relevante para esse contexto do podcast aqui. Bem bacana mesmo. A gente percebeu, Augusto, que muito além de uma reforma tributária, as áreas, as empresas estão tratando isso como uma reforma de negócios, tá? E nesse contexto, na nossa pesquisa, a gente conseguiu realmente confirmar que mais da metade das empresas que foram abordadas na pesquisa afirmam que vão contratar pelo menos três profissionais para lidarem com o tema da reforma. Esse dado te surpreende ou ou não? Como é que você avalia essa informação? Não, esse dado, tô super alinhado com esse dado. Eh, eu acho que é de três para fora. Eu vi que a pesquisa de vocês fala três ou mais, né? Eu tive oportunidade de ler a pesquisa. Parabéns até pela pesquisa. Eh, é muito simples, mas assim muito pontuais com com aspectos que são realmente caros aí ao que a gente tá passando. Veja, eh, eu acho que para além eh se a gente pudesse mineralizar um pouquinho ali a pesquisa, granularizar a pesquisa de vocês, eh, a gente poderia imaginar como as as empresas estão fazendo isso. Então, por exemplo, será que todas elas estão contratando, incrementando head counts? Não sabemos. Será que elas estão indo atrás de consultorias? Sim ou não? Será que elas estão indo com uma solução de outsourcing que eu sei que também vocês prestam? Sim ou não? Será que elas estão eh indo para um modelo de eh temporários? Não sabemos. Então, eh existe, acho que um hibridismo muito forte. Aí tem empresas que estão colocando seus departamentos para cuidarem da reforma tributária, ao passo que trazem o outsourcing para cuidar da gestão do dia a dia, né? Essa é uma é uma estratégia. Então, para além dessa questão de contratação de três, quatro ou mais, né, existe essa granularização, Rafael, que que ainda é uma incógna. E eu acho que não existe resposta certa ou errada. Se você for no varejo, existe uma maneira de tratar. Se você for em tecnologia, outro manufatura outro. Eu acho que isso depende muito da cultura das empresas, da cultura da gestão, eh do protagonismo que a gestão tributária tem frente ao Silv, frente ao board, né? Mas eh esse esse dado ele não me não me surpreende, pelo contrário, tá? Eu já tava bastante alinhado a isso antes ainda de de ler a pesquisa de vocês. Excelente, Augusto. De fato, a gente tá conversando com muitas empresas aqui e percebemos uma diferença absurda. Tem empresas muito preparadas que o gestor tributário conseguiu passar para eh os conselheiros e pro CEO a importância do negócio e eles estão tratando esse projeto de reforma. como um ponto central, né? Todas as áreas estão envolvidas e tem empresas que o pessoal fala que eles estão esperando ainda para para ver algumas definições. Essas últimas elas vão com certeza ficar na mão do mercado. É como você falou, guerra de talento, né, e vários outros problemas que podem surgir. Agora eu tenho uma pergunta para você. Eh, aqui o nosso podcast é escutado por todos os tipos de profissionais, profissionais em fase inicial de carreira, profissionais que são donos de empresa, diretores, profissionais fiscais e de outras áreas também. Como o Rafael falou aqui, é uma reforma de negócio, não é uma reforma que vai impactar só a área fiscal. Na sua opinião, quais são as outras áreas que que também precisaram precisarão se mobilizar em relação a processos, tecnologia e tarefas? Ótima pergunta, Víor. Veja que eh ano passado, quando a Volvo eh contratou o seu primeiro assessment, tá, da reforma tributária, a gente faz todo ano o chamado tax day. A gente fez um tax day focado na reforma tributária e chamamos eh todos os principais tomadores de decisão da empresa. A gente tem negócios no ramo de caminhões, de ônibus, máquinas, motores náuticos, industriais e banco. E a gente chamou todo mundo paraa sala para poder conscientizar todo mundo de que aquilo ali não era uma reforma eh só não era um projeto da área tributária, não era o projeto do Augusto, eh não era nada disso. Ele era um projeto da empresa toda. Veja você que se a gente não fizer o dever de casa, no dia primeiro de janeiro, a gente não emite uma nota, a gente não calcula o novo imposto. Ah, mas é que ano que vem, agosto em 26, não vai ter impacto em carga tributária. Tudo verdade, mas já existem requisitos ali que são mandatórios, né? Então eu acho que que a que a a grande senha aí realmente é você tratar isso como um um um projeto da empresa toda, né? você precisa realmente ter essa conscientização. Quem largar na frente vai ter vantagens, como, por exemplo, participar de grupos de trabalho que estão se formando junto a associações de montadoras, associações da indústria química, associação eh junto à a à Federação de Indústrias, né? e tá podendo inclusive ter um caráter propositivo ali ao longo da da transição. Então é é muito importante. Eh, eu acho que todos esses gestores que conseguiram conscientizar se level, conseguiram conscientizar boards, eles estão de parabéns e certamente vão colher ali na frente eh diferenciais competitivos em relação ao negócio, em relação aos demais. E eu acho que essa questão de algumas empresas estarem atrasadas também tem muito a ver com a procrastinação, talvez típica ali do do do brasileiro, associada a uma cultura que a gente tem de achar que as coisas vão ser postergadas. E aqui acho que tem um recado importante. Eh, eu tenho eh falado bastante com a Receita Federal através da Anfávia, da nossa associação, e eu afirmo, isso não vai ser postergado. Realmente a gente vai ter a reforma tributária como tá dada aí, né, a partir de 26 até 32, com seus meandos ali no meio do caminho, né? Então eu realmente eu não acredito em postergação. Quem tá apostando nisso vai quebrar ali ao final do ano. Bem bacana. Augustou. Eh, de fato, como a gente tá num momento, né, de preparação e um momento único, a gente percebe que muitas empresas estão colocando, né, projetos paraa frente, estão de fato investindo e tem outras empresas que estão esperando definições, né, mais eh práticas em relação ao que de fato vai ocorrer, né, em relação aos alíquotas, em relação, enfim, algumas eh algumas operações que de fato vão ocorrer. Eu queria entender assim até do seu lado que que você tem achado em relação à utilização de tecnologia paraa reforma tributária. Como é que você acha que ela pode ser uma grande aliada ou pode de repente não ajudar? Que qual é a tua visão sobre esse aspecto tecnológico? É fundamental, Rafael. Eh, a gente vem observando esse movimento muito forte, né, de transformação digital aqui no grupo, por exemplo, desde 2018, tá? 2019 a gente começou ainda timidamente com alguns robozinhos, com alguns sistemas aqui ali, os chamados quick wins, porque como todas as empresas aí em geral, a gente começou essa jornada transformação digital com orçamento base zero, né? Ninguém queria apostar nisso. Você captura margens, você tira o dividendo do acionista. Então, ninguém tava muito confiante nisso até o momento que a gente começou a mostrar a produtividade, você aumenta ali eh a confiabilidade nos dados, você eh consegue transferir, né, operações eh rotineiras, repetitivas para alguns sistemas, robôs e e e tudo mais. Hoje, mais modernamente, você consegue criar, né, dashboards, que são muito importantes ali para tomada de decisão. Você consegue engajar o time todo nisso, né? Então, a jornada de transformação digital, ela via de regra, ela começa com esse orçamento base, até que você consegue entregar, por exemplo, redução de horas, né? Tem estudos aí do Banco Mundial que dão conta que o Brasil é campeão, né, no em gastar milhares de horas por ano para atender o compliance tributário, né? E as empresas que já deram a largada nessa transformação digital já tão capturando ganhos, reduzindo milhares de horas aí na preparação de de obrigações acessórias. Eh, na reforma tributária, Rafael, a nossa expectativa quanto a transformação digital, ela é gigantesca para da porta para dentro de casa, nos investimentos que a gente tá fazendo, eh, Power Apps e, e várias outras iniciativas que a gente tem, mas também da porta para fora. Realmente, o que a gente espera é que essa reforma traga uma mudança na mentalidade da relação fisco contribuinte. O que significa dizer que eu acho que muito da muito da da dos das milhares de horas que os contribuintes eh precisam gastar no Brasil para estarem em compliance tributário decorrem de medidas que o que a que a Receita Federal, que os físicos em geral têm com os maus contribuintes. Isso é lastimável, porque eh a maioria, a esmagadora maioria dos contribuintes no Brasil são bons, são bons contribuintes, são sérios, pagam seus impostos, querem estar em compliance. E a Receita Federal, ela tem mecanismos, né, para saber quem são os maus contribuintes. Eu acho que a gente precisa pensar de uma vez por todas na mudança dessa mentalidade, na relação, um pouco mais de confiança nisso. O físico sempre tem 5 anos para para revisar, para auditar, para fiscalizar isso, né? Então, a gente também espera que a gente tire, Rafael, eh, de algumas situações, como, por exemplo, informações que a gente presta ao fío, que constam em quatro, c diferentes obrigações acessórias. Tem que ter alguém dentro do governo fazendo uma matriz em que ele possa avaliar, poxa, eu esse contribuinte não precisa mais entregar essa obrigação ou não precisa mais entregar com essa periodicidade porque ele tem certião negativa ou enfim, coisas assim. Então, incentivar, né, realmente o contribuinte com boas práticas e ele poder capturar esse tipo de de eficiência, né, reduzindo eh gastos ali com redcount, reduzindo gastos com diversos sistemas, com diversos legados, né? Então, acho que a transformação digital, ela vem eh nessa busca de de eficiência, mas eu acho que ela é um é um jogo de de dois agentes. Eu falei da porta para dentro, ou seja, as empresas têm que fazer seu dever de casa, mas o fisco também tem que dar essa contrapartida de de criar uma nova relação com o contribuinte. Muito bacana, Augusto. A gente também tá notando aqui realmente que as empresas estão passando por esse momento de mudança cultural, né? mudança de mentalidade em relação à participação, né, da área fiscal dentro da estrutura de negócios, mas também o investimento em tecnologia super importante, né, porque a tecnologia vai poder potencializar tudo aquilo que tá sendo preparado, né? E obviamente que isso traz a reboque aí a capacitação dos profissionais. a gente fala muito em re skill, em upskill, que é justamente você ter que se readaptar ao mercado que já existe, mas num novo cenário. Então, impressionante como sua fala tá alinhada realmente com com o que a gente tem visto aqui no mercado e cada vez mais acho que é só o início dessa jornada agora em 25, estamos aí até 2032 e 33 aí com essa com essa visão aí na reforma. Bem bacana, com certeza. É, e para além disso, Rafael, também diria que o fisco brasileiro, tanto quanto o mercado financeiro brasileiro, ele tá na vanguarda de tecnologia quando a gente compara com fiscos do mundo todo, né? Eh, ninguém tem, né, a tecnologia embarcada que o físico brasileiro tem para fiscalizar contribuintes, para levantar dados, né? Então, que isso seja seja usado para criar um ambiente de negócios melhor, eh, que a gente possa atrair mais investimentos, que a gente possa ter em relações com a que eu tenho, né, uma empresa multinacional com headquarters, uma relação em que a gente tenha debates mais inteligentes, mais propositivos, mais focados no negócio e não apenas em questões que de obrigações, de investimento, de aumento de red count, a gente precisa ter essa cabeça para isso, né? Bem bacana. Totalmente. Augustou, você falou em determinado momento do profissional business partner, né? É engraçado como a gente começa falar desse termo pro profissional fiscal. Muitas vezes falava-se para outras áreas, falou muito pro para recursos humanos no passado, falou muito pro profissional de tecnologia também do passado, principalmente depois de 2020, que que as empresas foram pra pandemia, precisaram criar sites, aplicativos, teve uma guerra de talentos ali na área de tecnologia. E a gente percebe que chegou o momento do profissional fiscal, aquele profissional que tiver uma boa comunicação, que que conseguir ser assertivo, que conseguir passar de forma simples, como você falou, paraas outras áreas, quais são os impactos da reforma, é um profissional que vai sair à frente, né? Muita coisa vai acontecer eh dentro da área. Então, queria te perguntar o seguinte, né? Imagina que nós temos um gestor fiscal aqui que tá ouvindo, que não tá preparado, que não sabe nem como começar. O que que você passaria de dicas e de passo a passo para esse gestor eh se preparar, né? o que que ele poderia fazer dentro da empresa para reter os melhores talentos, preparar esses melhores talentos e criar um ambiente interessante para essa transição. Excelente, Víor. Veja, eh, eu acho que eu gosto sempre de de trabalhar assim a as reflexões numa perspectiva, né? O, a economia brasileira, ela veio se desenvolvendo, né? você pega realmente até meados da década de 90 você tinha áreas chamadas contábil fiscal, né? A partir dos anos 90 com o governo Fernando Henrique, com as privatizações, com a modernização, Plano Real, né? A gente passou a ter áreas que já eram fiscais. Ali começa a ter, por exemplo, eh profissionais que eram coordenadores fiscais, já não eram mais o contador cuidando de contabilidade e da área fiscal. você já tinha ali e fiscal que cuidava ainda timidamente de tributário, planejamento tributário, eh tratava de diferentes questões. Hoje as grandes empresas, o Creme de la CREM, né, do capitalismo brasileiro, já tem áreas tributárias, já tem diretores tributários, já tem vice-presidentes tributários, coisa que não se imaginava 20, 30 anos atrás. Isso aconteceu por quê? pela habilidade de alguns profissionais fazerem essa interlocução com o C level, com CFOs, com CEOs. Eu costumo dar um exemplo, Víor, que eh você quando trata a sua comunicação de uma maneira adequada, eh vocacionada paraa audiência, não é raro você ter, por exemplo, pegar ali tese do século, né, que 2019, 2020 teve nas grandes manchetes de jornais. você deveria ter uma apresentação para você discutir com o time tributário mais detalhada, com base em legislação, jurisprudência. Você pode ter uma outra apresentação para discutir com a contabilidade, eh, debatendo ali o efeito disso no caixa, o efeito disso no PNL. Você deveria ter uma outra apresentação para discutir com com seu headquarters, ela vai estar em inglês, um pouco mais resumida e uma apresentação para discutir com CFO, que é o OnePed slide, super mais objetivo, direto ao ponto, mais visual, mais lúdico, é alguém que eventualmente tem 10 ou 15 minutos para ouvir a área tributária e que eu o que eu percebo é que o profissional tributário mais desatento, ele usa a mesma apresentação com todas essas audiências. Então o que que acontece, né? Víor, você vê reuniões em que o gestor tributário tá apresentando e com 5, 10 minutos de reunião você vê todo mundo na mesa olhando o celular, respondendo e-mail, ele não consegue capturar a atenção. Existe a necessidade desse profissional se reinventar com storytelling e ele ele adaptar sua comunicação, ter uma uma uma linguagem em que ele pare de focar no seu ego, querer mostrar conhecimento e foque na audiência, né? A comunicação não é o que você fala, mas é o que os outros entendem. Ele tem que ser mais simples, né? Essa é uma, aliás, é um cacoete que profissionais, não apenas da área tributária, mas se você pegar profissionais da área jurídica cometem o mesmo pecado, profissionais da área de tecnologia cometem o mesmo pecado, né? UTI. Eh, a gente costuma brincar que são três profissionais que na empresa ninguém entende. E para e pro profissional tributário começar a circular mais na empresa, participar nas mesas de decisões, eh ser chamado realmente nas decisões de negócio, decisões de investimento, ele precisa ter essa capacidade de se comunicar melhor, de uma maneira mais simples, mais clara, mais objetiva, eh com termos mais eh do negócio, né? Se ele fizer isso, ele vai est realmente levando o time todo eh nessa mesma toada, né, de de investimento. Se ele não conseguir, realmente você começa a ter uma área em que ninguém vai crescer, porque ele não sai dali, porque ele é um especialista, ele começa a achar ruim que tá sendo boicotado, né? Então, eh, esses gestores precisam avaliar eh né, lá do assistente, o estagiário, até o gestor, que tipo de treinamento, que tipo de desenvolvimento esse profissional precisa ter. Poxa, no início da carreira a gente tá muito focado em habilidades técnicas. Você precisa conhecer contabilidade, imposto de renda, ICMS, piscins. Mas quando você chega a uma cadeira, a primeira cadeira de gestão que é supervisão ou coordenação, você precisa, Víor, chegar à conclusão que as habilidades que te levaram até ali não são as mesmas que vão te fazer continuar subindo essa escadinha. Você precisa ter essa mudança, né? E aí você começa a focar um pouco mais, precisa focar mais, né? tem habilidades comportamentais. Você começa a se comunicar melhor, você precisa negociar melhor, você precisa ser mais persuasivo, você precisa ter a capacidade de falar de outros assuntos que não apenas a legislação tributária. Então, eh, quando a gente fala em desenvolvimento do profissional da área tributária, ele precisa ter a capacidade de mostrar pro time onde é que a gente quer chegar. Então, imagina uma empresa tem seus objetivos, isso é desdobrado para finanças, chega no tributário, ele precisa ter capacidade dizer: "Olha, pessoal, a gente quer chegar aqui". E a partir disso começar a a debater, né, essas metas e a partir dessas metas debater, né, orçamento para desenvolvimento, que dependendo do momento de carreira para uns vai ser cursos mais técnicos, para outros mais cursos de habilidades comport. Eu, por exemplo, eu tenho feito vários cursos de de storytelling. Eu faço oficina de teatro, eu leio assuntos que hoje nada tem a ver com com a área tributária, tudo para eh conseguir ter essa capacidade de persuasão, de negociação, de comunicação melhor. Então, essa é a visão híbrida, né, que o gestor tributário tem que ter para poder alocar investimentos na no desenvolvimento desse novo profissional de gestão tributária. Legal. Muitas vezes o profissional tributário ele ele ele pode ter um perfil um pouco mais técnico, né? E e de fato ele ele migrar para um perfil comportamental melhor, né? Se preparar melhor nesse sentido, é uma excelente saída. E e você tava falando, me veio até uma outra pergunta que entendendo que é uma área que vai precisar de mais talentos, você acha que pode ser uma boa oportunidade de pessoas que estão em outras áreas migrarem pra área fiscal e trazerem eh o a expertise delas dessas outras áreas também paraa área fiscal? O que que você acha? Eu acho que isso é uma reflexão que tá acontecendo nesse momento no mercado. Se discute muito, Víor, em que medida profissionais de tecnologia estão migrando paraa área tributária, profissionais da área tributária estão migrando paraa tecnologia, profissionais da contabilidade tão indo pro tributário porque estão percebendo essa onda de protagonismo que a área tributária tá gerando, né, em toda a empresa. Eu acho que o grande desafio eh dos bons gestores tributários é capturar bons talentos na área de tecnologia, na área de contabilidade, na área de finanças. Eu mesmo já fiz isso em experiências pregressas que eu tive no ramo executivo, trazendo profissionais de contabilidade para área tributária, que hoje são grandes diretores tributários aí de mercado, né? Então, eh, a gente, o, o mercado, na academia, ela forma ali, né, profissionais da, da contabilidade, da administração, do direito à economia, que é o grande sourcing da gestão tributária. Eh, mas a gente muito em breve, Víor, vai ver também sentado na nas áreas tributárias profissionais de matemática, profissionais de estatística, profissionais eh de tecnologia, de análise de sistemas, porque tudo isso vai ser muito importante. A gente tá começando a lidar agora com ciência de dados, a maneira de manusear dados, dados para tomada de decisões. Hoje você tem nas empresas mais estruturadas grandes data lakes que cruzam dados do comercial eh com a com a área tributária. Qual é o produto que paga mais imposto, paga menos imposto? Eh, como é que é eh mais relevante você importar por por A, por B, produzir em A, em B? Isso tudo mexe com dados. Então, eh eh eu acho que isso é uma, a gente precisa ter essa capacidade de atrair boas cabeças pra gestão tributária. Nem todo mundo vai ter o interesse de abrir um regulamento de imposto de renda, mas a área tributária vai precisar de profissionais que saibam manusear dado, saibam trabalhar com matemática, com estatística, para permitir que o gestor tributário possa tomar uma decisão mais assertiva, sabe? Mais refletida e mais orientada pros negócios. Bacana, Augusto. Realmente a gente tá falando aqui de atualização de de cross, né, função ali de migração ali de área. Impressionante como realmente esse evento da reforma tributária traz muita modificação nas estruturas, né? Eu queria tirar uma dúvida com com você, na verdade, mais uma curiosidade, tendo em vista aí a sua atuação, né, internacional, né, como como VP de gestão tributária paraa América Latina e logicamente com muito contato também, né, com o exterior, com a Europa, né, com Headquarter da Volvo, queria saber como é que você faz para adaptar as nuances e as modificações que existem aqui da reforma e explicar isso pros seus interlocutores globais. Quais são as suas estratégias? Fiquei curioso. Essa é é uma é um grande desafio diário, né? No meio de tudo isso, né, Rafael? A gente tem mudanças como é que estão acontecendo agora do IOF, todo o debate mais estressante com o Congresso. Eh, então assim, eh, acho que a grande reflexão é, eh, o que que você desenvolveu de relação com seu Head Quarters, né? Então, na Volvo, a relação que a gente desenvolveu foi uma relação em que a gente tem a confiança no centro. Eh, eu lembro que no início da minha jornada aqui no grupo em 2017 era natural que o Headquarters recebesse as leders de de escritórios de advogados, de consultorias e e às vezes eu não tava copiado nesse e-mail e aí era questionado, poxa, isso aqui às vezes não era algo aplicado ao nosso segmento ou não era aplicado à nossa realidade ou eram coisas que a gente não acreditava. Me lembro que em 2018 um determinado escritório de consultoria em Londres mandou uma notícia alarmante pro meu chefe falando sobre a ameaça de tributar os dividendos em 2018. Eh, a gente ainda segue nessa discussão, né, quase 10 anos depois. Então, eh, a relação que eu estabeleci lá com o meu chefe, que é um SVP global, né, de gestão tributária, é que tudo que é importante pra gente tomar decisões no grupo, eh, a gente vai passar para eles no momento certo, né? Então, acho que esse é o primeiro ponto. Segundo ponto é eles não um um grupo como o Grupo Volvo que atua em 190 mercados, eh é impossível o SVP conhecer legislação de 190 mercados. Então ele precisa confiar que a sua gestão tributária da América Latina ou do Brasil, dos Estados Unidos ou do Canadá vai levar o que realmente importa na profundidade que realmente importa. Então eu levo para eles, Rafael, sempre apresentações mais high level, eh, flegando questões de de riscos, de oportunidades, eh, de timing. A reforma tributária, a gente vem falando já desde meados de 22, 23, preço de transferência, a gente vem falando desde 2019, 2020. E com isso a gente vem trazendo uma conscientização quanto a a custos, quanto a o que que a gente vai precisar de consultoria, que a gente vai precisar de red count, o que que a gente recomenda fazer outsourcing. Eh, então acaba sendo uma conversa saudável, né, em que eles confiam muito no que a gente leva e desde que a gente leva de uma maneira simples, de, né, o chamado think straight, talk straight, sabe que a a as multinacionais têm esses acordos, né? você tem que falar simples e eles têm o chamado no surprise principal, né? A gente não gosta de surpresa nem positiva, nem negativa, né? E para isso a gente tá sempre flegando, né, essas oportunidades. A gente criou um comitê aqui, então o comitê ele também ele acaba filtrando muita coisa que realmente importa, né? Eh, então é dessa maneira. Eu acho que tudo começa por confiança, Rafael, e e obedecendo essa questão de que o investidor estrangeiro, ele sabe que o Brasil é um país de incerteza, de insegurança, mas ele quer do seu departamento aqui no Brasil eh um mínimo de previsibilidade. Isso a gente consegue entregar nessa comunicação mais simples, né? Perfeito, Augusto. Já já dizia o ministro, né, no passado que no Brasil nenhum passado é garantido, né, na questão tributária. O Malã dizia isso, né, que o passado é mais incerto que o futuro, né? Exato. Na verdade, eh, perfeita a tua colocação em relação à confiança na construção do relacionamento. Eu tenho certeza que os ouvintes aqui, nossos ouvintes do podcast Robert Halks, vão levar essas dicas valiosas aí no contato com com as empresas que são globais aí, com multinacionais. Bem bacana, realmente. Obrigado. Olha, pessoal, infelizmente eu falo infelizmente porque daria para ficar muito tempo aqui conversando com você, Augusto, tem, você tem muita informação para passar, eh, muita dica também para passar, mas, infelizmente, a gente tá chegando no fim. Eu confesso que eu já comecei a a seguir o seu podcast, já comecei a te seguir no Instagram. Queria que você deixasse aqui tanto uma mensagem final, quanto você também falasse aqui quais, qual que é o seu canal, os seus canais, né, e e sobre o seu livro. Obrigado, Víor. Obrigado mais uma vez. Obrigado, Rafael. Obrigado, Robert, pelo convite. Fiquei muito feliz. muito importante esse diálogo aqui, né, do ponto de vista de negócio. Bom, eh, a mensagem que eu que eu dou, né, pro pro para esse público que milita aí na área tributária é prestar atenção na oportunidade que a gente tem do protagonismo. Ninguém mais aguenta, né, o gestor tributário falar que no Brasil é tudo difícil, é tudo complexo, todo mundo já sabe disso. Agora a gente precisa resolver isso, botar isso para funcionar e a gente precisa eh se cacifar com profissionais muito mais abertos, muito mais transversais, polímatas, né, que conheçam o tributário, conheçam contabilidade, conheçam finanças, conheçam o negócio, né? E quem quiser realmente se conectar comigo, é, acessa lá, né, tanto no YouTube quanto no Spotify, eu tenho um podcast chamado Manicômio Tributário, onde eu entrevisto os grandes nomes aí da gestão tributária do Brasil todo, episódios semanais. Recentemente eu lancei aí o Pitacos Corporativos também, que são pílulas do mundo corporativo, em que eu publico também eventualmente lá são episódios mais curtinhos. No Instagram, eu tô como Augusto Flores oficial e os meus livros, né, estão disponíveis aí eh nas principais plataformas. Eu escrevi Marincomo Tributário, reflexões de um sobrevivente, é assim que eu me sinto nesse mercado, né? E cartas a um jovem gestor tributário, em que eu falo um pouquinho sobre a trajetória profissional do do do de quem atua na área, né? Todas as dificuldades, os desafios, os grandes dilemas, né? até realmente chegar às grandes cadeiras de decisões. Mais mesmo, muito obrigado aí pelo convite. Espero que que todos gostem desse conteúdo. Somos nós que agradecemos por todas as informações que vocês passarem, todo o conhecimento que você nos passou aqui. Augusto. Obrigado mesmo. Bom, pessoal, hoje conversamos com Augusto Flores, vice-presidente de gestão tributária pro grupo Volvo na América Latina e ele falou um pouco dos impactos da reforma tributária no capital humano das empresas. Eu sou o Víor Silvério e nos vemos no próximo Robert Hef Talks. Este podcast é produzido pela Robert Hef, a consultoria global de soluções em talentos que mais cresce no Brasil. Venha fazer parte dessa história. Trabalhar com pessoas e ser o agente da evolução e transformação da vida de profissionais pode ser uma atividade muito gratificante, além de uma excelente oportunidade de carreira. Acesse a sessão Trabalhe Conosco do nosso website robertheff.com.br e veja as vagas disponíveis. Junte-se a nós. [Música]
O fim da "salinha climatizada"
Um dos principais alertas feitos por Augusto diz respeito ao papel do profissional tributário, historicamente mais técnico e isolado dentro das organizações. “O profissional tributário se notabilizou como aquele que ficava numa salinha climatizada, esperando as outras áreas entrarem com dúvidas. Ele era mais erudito, mas pouco conectado ao negócio.”
Esse perfil, segundo ele, precisa ser radicalmente transformado. Com a reforma em curso, os profissionais da área tributária deverão se posicionar como verdadeiros business partners, com um repertório mais amplo, maior capacidade de comunicação e entendimento das demais áreas. “Ele precisa falar mais simples, entender que a comunicação tem que ser focada na audiência”, reforça.
Essa mudança exige preparo. Flores chama a atenção para o risco de as empresas não encontrarem talentos disponíveis no mercado justamente quando mais precisarem. “O mercado já vive um ambiente de rouba monte. A empresa A contrata da B, que contrata da C, e assim por diante. É um jogo de soma zero.”
Transformação exige ação
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Pesquisa realizada pela Robert Half e citada no episódio revelou que mais da metade das empresas não se consideram preparadas para a reforma tributária. Para Augusto, isso é resultado de uma cultura de procrastinação e da ausência de uma liderança fiscal mais estratégica.
“É responsabilidade do gestor tributário que não fez o dever de casa lá atrás. Mas agora a gente tem diante de nós uma oportunidade”, alerta. Ele acredita que o momento é ideal para transformar a gestão tributária em uma área protagonista, capaz de influenciar conselhos, diretores e investidores.
Essa transformação, no entanto, não pode ser apenas discursiva. Augusto é categórico ao afirmar que é preciso investir em desenvolvimento, treinamento e comunicação efetiva. “A comunicação não é o que você fala, mas o que os outros entendem. A gente precisa parar de focar no ego e focar na audiência.”
"Desde os anos 1960, o país clama por uma reforma consistente e, agora, com a consolidação das propostas e cronograma de implementação até 2032, o desafio passa a ser como as empresas vão reagir – e se preparar – para esse novo cenário", afirma Augusto Flores.
O papel da tecnologia
Outro ponto central da conversa foi a tecnologia. Segundo Augusto, ela é peça-chave não apenas para lidar com a complexidade do sistema tributário brasileiro, mas para tornar os times mais produtivos e preparados.
Desde 2018, o Grupo Volvo tem investido fortemente em transformação digital na área fiscal. “Começamos timidamente com alguns robozinhos, com orçamento base zero, até que mostramos produtividade. Hoje temos dashboards importantes para a tomada de decisão”, compartilhou.
Para ele, a tecnologia tem duas frentes de atuação: dentro das empresas, otimizando processos e reduzindo custos; e fora delas, na relação com o Fisco. “A expectativa é que a reforma traga uma mudança na mentalidade da relação fisco-contribuinte. Incentivar o bom contribuinte é essencial”, defende.
Reforma de negócios, não apenas de impostos
Uma das principais ideias defendidas por Augusto é que a reforma tributária não se trata apenas de uma reestruturação de impostos, mas de uma verdadeira reforma de negócios. E, para isso, todas as áreas da empresa precisam estar envolvidas.
Ele compartilhou o exemplo da Volvo, que promoveu um “Tax Day” reunindo todas as áreas de negócios para tratar da reforma. “Chamamos os tomadores de decisão de caminhões, ônibus, motores e banco. Não era um projeto da área tributária. Era um projeto da empresa.”
Essa mobilização coletiva, segundo ele, é o que vai diferenciar as empresas que estarão preparadas daquelas que vão “quebrar ao final do ano” por apostarem em adiamentos ou soluções improvisadas. “Quem largar na frente vai ter vantagens competitivas. Vai influenciar discussões nas associações, nas federações e nos grupos de trabalho.”
A evolução da carreira tributária
Ao longo da conversa, Augusto também abordou a evolução da carreira na área fiscal. Ele lembra que, nas décadas passadas, a estrutura era mais voltada ao “contábil-fiscal”, enquanto hoje já se vê diretores e vice-presidentes exclusivos para a tributação nas grandes companhias.
“Isso só aconteceu porque alguns profissionais conseguiram fazer a interlocução com o C-level, com os boards, com o negócio”, explica. Para ele, o segredo está em adaptar o discurso à audiência. “Você não pode usar a mesma apresentação para o time técnico e para o CFO. Precisa ter uma versão lúdica, visual, objetiva.”
Flores defende que o profissional precisa se preparar continuamente, inclusive com formações não tradicionais. “Faço cursos de storytelling, oficina de teatro, leio assuntos que não têm nada a ver com tributário, tudo para melhorar a comunicação e a capacidade de influência.”
Vantagem competitiva
A entrevista com Augusto Flores deixa uma mensagem clara: a reforma tributária é inevitável, mas pode ser uma grande oportunidade para quem estiver disposto a liderar a mudança.
Mais do que compreender as novas regras, será necessário transformar a cultura corporativa, investir em tecnologia, capacitar talentos e adotar uma visão integrada entre áreas. “O Brasil é complexo, sim. Mas já sabemos disso. Agora, precisamos resolver”, finaliza.
O episódio reforça que o futuro da área tributária será cada vez mais estratégico e interligado aos demais setores da empresa. Um novo momento se inicia — e quem não acompanhar essa evolução corre o risco de ficar para trás.
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