Por Fernando Mantovani
A data de 03 de dezembro é reconhecida como o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência e convoca nossa reflexão e ação para apoiar esta minoria que, na realidade, é gigantesca. De acordo com dados de 2022 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a população com deficiência no País abrange cerca de 18,6 milhões de pessoas com idade de 2 anos ou mais, o que representa 8,9% do total de brasileiros.
Arredondando a estatística para facilitar a compreensão, é quase como se um a cada dez habitantes tivesse algum tipo de deficiência física (auditiva, de visão, mobilidade, etc) ou intelectual. É muita gente e muita gente que, assim como todos os brasileiros, têm assegurado pela Constituição o direito à educação, saúde, segurança e trabalho.
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Ainda há muito a ser feito para alcançarmos bons níveis de inclusão
Infelizmente, sabemos que a realidade está bem distante disso. Os números da PNAD revelam um abismo entre pessoas com deficiência (PCDs) e as demais. Apenas 25,6% das PCDs tinham concluído pelo menos o Ensino Médio durante o levantamento, enquanto mais da metade das pessoas sem deficiência (57,3%) alcançaram esse nível de instrução. Já a proporção de pessoas com nível superior foi de 7,0% para PCDs e 20,9% para o restante.
No trabalho, as disparidades também são gritantes. Conforme o IBGE, 26,6% das PCDs encontram espaço no mercado – no restante da população o índice é de 60,7%. O rendimento médio real de PCDs é de R$ 1.860 e atinge R$ 2.690 para os demais, uma diferença de 30%.
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Apesar das limitações, as pessoas com deficiência podem, querem e precisam trabalhar, ter renda, autonomia e tudo o mais que é proporcionado por uma ocupação profissional remunerada (autoestima, relacionamentos, entre outros). As empresas são fundamentais para realizar sua inclusão não apenas no universo corporativo, mas na própria sociedade, já que o trabalho abre portas para inúmeras outras conquistas e perspectivas.
Uma sondagem realizada em fevereiro pela Robert Half, com 1.161 profissionais qualificados, detectou que 48% das empresas ouvidas consideravam ter avançado na agenda de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) no último ano. Elas também citaram como foco de políticas de DEI as mulheres (73%), LGBTQIA+ (68%), pessoas pretas (62%), PCDs (59%) e pessoas 50+ (37%).
No entanto, para estudarem, trabalharem e circularem pela cidade, as pessoas com deficiência necessitam de uma série de adaptações em escritórios, fábricas, lojas, restaurantes e outros espaços públicos. E é nesse ponto que as organizações se dividem entre aquelas com mero discurso inclusivo e as que de fato adotam boas práticas de inclusão.
Incluir PCDs em uma companhia requer mudanças profundas, e não apenas na arquitetura. Para cultivar a acessibilidade é básico preparar os espaços, mas também os times, para que as PCDs tenham boas condições de trabalho e de convivência com os colegas. As equipes precisam ser constantemente treinadas e estimuladas a ter uma atitude inclusiva, o que envolve cultivar a empatia, o respeito e a valorização da diversidade.
Perguntas-chave para realizar uma inclusão bem-sucedida
Não é exagero dizer que o principal investimento para a inclusão dar certo é na mentalidade da empresa. Antes de planejar ou implementar uma política de diversidade, recomendo que as lideranças respondam às seguintes perguntas:
- qual é o grau de envolvimento da alta gestão? Se a cúpula da organização não estiver 100% comprometida com a inclusão, dificilmente as ações implementadas irão para frente, por falta de credibilidade;
- há abertura na empresa para mudanças? Organizações rígidas e mais conservadoras tendem a resistir ao que é novo e diferente, e esse é um obstáculo relevante para a construção de um ambiente diverso;
- os funcionários já foram ouvidos sobre os planos de diversidade? Ouvir o que eles pensam sobre o assunto e como imaginam trabalhar com pessoas diferentes do habitual é imprescindível para formatar uma proposta alinhada à realidade interna;
- como possíveis “baixas” em virtude de ações de inclusão serão encaradas? Há profissionais com crenças e valores incompatíveis com os avanços da diversidade e que poderão sair da empresa por se sentirem peixes fora d 'água. Saber lidar com esse tipo de situação faz parte do jogo.
A inclusão de PCDs, e de outras minorias, promove uma ampla e saudável transformação nas empresas. Os profissionais são obrigados a rever conceitos, aprender novas habilidades e trocar conhecimentos e experiências que sequer poderiam imaginar. Aumento da maturidade, criatividade e do espírito de equipe são alguns dos ganhos nessa jornada. Que tal começar já?
*Fernando Mantovani é diretor-geral da Robert Half para a América do Sul