Por Fernando Mantovani
No início da semana, 10 de outubro, foi celebrado o Dia Mundial da Saúde Mental, que nos lembra que mente sã, significa corpo são. O ditado é antigo. No entanto, foi necessária a ascensão do que já podemos chamar de pandemia dos transtornos mentais, impulsionada pela Covid-19, para que todos se dessem conta de que atividade física e alimentação saudável não são suficientes. A saúde mental envolve muito mais do que isso e, sem ela, o sofrimento psíquico toma conta, afetando o corpo, as relações, o trabalho, os hobbies e tudo mais.
Não é por outro motivo que tanta gente mudou de emprego, de carreira ou até mesmo de cidade, em busca de mais equilíbrio e qualidade de vida como resposta à fase mais crítica da pandemia. A boa notícia é que, agora, não apenas as pessoas, mas as empresas estão cada vez mais conscientes da importância de cuidarmos das emoções, dos sentimentos e dos pensamentos, indo além da parte física.
Mas qual é a percepção mercado sobre o tema?
O estudo “Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho”, realizado pela The School of Life, em parceria com a Robert Half, mapeou a percepção do universo corporativo sobre esse tema. O foco foram profissionais com idade igual ou superior a 25 anos e nível superior completo, considerando a visão deles sobre o período de julho de 2021 a julho de 2022.
Para 34% dos 180 liderados e 41% dos 620 líderes entrevistados, as empresas nas quais atuam estão mais preocupadas com o bem-estar emocional e a saúde mental do colaborador hoje do que no passado. Os números são animadores, mas não podemos ignorar o outro lado da moeda. Para 16% dos liderados e 12% dos líderes, a impressão é de que a empresa não dá atenção suficiente ao tema. E de acordo com 7% dos liderados e 6% dos líderes, a sensação é ainda pior: eles acreditam que essa preocupação até diminuiu do ano passado para cá.
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A importância do apoio, da escuta ativa e da valorização das pessoas
O estudo também revelou que 36% dos profissionais que não exercem cargo de liderança acreditam que uma das habilidades mais escassas em seus líderes é o apoio, entendido como disponibilidade, escuta ativa e valorização das pessoas. Em contrapartida, diante da pergunta sobre até três habilidades que gostariam de desenvolver em si mesmos, apenas 6% dos 620 líderes ouvidos indicaram o apoio. Notamos aí um desencontro perigoso entre as expectativas de times e de gestores no território da inteligência emocional.
Ainda conforme os liderados, eles também sentem que seus gestores apresentam baixa capacidade de comunicação (26%), de decisão (17%), de empatia (14%), de objetividade (14%) e de liderança (13%). É claro que não existe o líder, a empresa ou o funcionário perfeito. Mas é fato que tratar a saúde mental como algo secundário ou restrito a situações de crise, é uma péssima ideia. Ela se tornou uma prioridade na agenda de todos.
Um dos resultados mais impactantes do estudo corrobora esse ponto. Apoio e acolhimento são citados como principal aspecto de um bom ambiente de trabalho para 70% dos líderes e como o segundo colocado para 66% dos liderados. Ninguém quer trabalhar em um lugar tóxico, com potencial de desestabilizar ou até adoecer as pessoas. Por isso, ações dedicadas à saúde mental se tornaram essenciais nas estratégias de atração e retenção de talentos das empresas.
Diversas iniciativas contribuem para saúde mental
Desenvolver um programa dedicado ao bem-estar e qualidade de vida dos funcionários demanda sensibilidade, planejamento, verba, entre outros recursos. Contudo, existem iniciativas relativamente simples para as empresas que estão começando a explorar esse território. Destaco, a seguir, algumas delas:
- aulas práticas – yoga, alongamento ou meditação são exemplos de modalidades que podem ser realizadas dentro da empresa ou em convênio com escolas especializadas, para reduzir o estresse;
- eventos – palestras, rodas de conversa ou sessões de filmes que promovam reflexão e debate sobre saúde mental ajudam na conscientização dos profissionais e quebram a rotina;
- confraternizações – criar momentos de descontração e interação entre os funcionários é básico. Aniversários, happy hours e festas temáticas (Halloween, por exemplo) são ótimos para essa finalidade;
- ajustes na carga de trabalho – dosar a quantidade de tarefas, responsabilidades e horas trabalhadas pelo time deve ser um cuidado constante das lideranças.
Seja qual for a iniciativa escolhida pela empresa, o principal é que ela seja avaliada e aprimorada periodicamente, de modo a alcançar resultados efetivos e em linha com os anseios das equipes.
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