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Por Fernando Mantovani

Por décadas, o Dia Internacional da Mulher foi comemorado nas empresas com ações que incluíam presentes como flores, maquiagem, perfume, e mensagens enaltecendo o “estilo feminino” de trabalhar (ao longo do texto ficará claro o motivo das aspas).

Não critico a intenção de agradar os colaboradores, muito pelo contrário, acho o reconhecimento sempre valioso e necessário. Mas é com satisfação que vejo, nos últimos tempos, essa data histórica ganhando uma dimensão maior, nova e mais significativa, que inspira reflexão, debate e transformação na sociedade.​

A análise de dados trouxe surpresas interessantes sobre o tema

Trago o exemplo de “casa”. No último dia 8, nossa celebração contou com o lançamento da pesquisa “Quebrando Mitos sobre Liderança e Gênero: Similaridades e Diferenças Percebidas entre Líderes Mulheres e Homens”, realizada pela Robert Half em parceria com o Insper. O estudo ouviu 1.464 profissionais, de diferentes indústrias e níveis hierárquicos, para mapear as percepções dos líderes sobre si mesmos e dos liderados sobre seus líderes imediatos.

Os resultados nos trazem boas surpresas e avanços rumo à equidade de gênero, mas também desafios que ainda precisamos enfrentar. A mensagem principal, e muito positiva, é que o suposto “estilo feminino” de liderar, tido como mais suave, humanizado ou frágil, não encontra mais respaldo no dia a dia do ambiente corporativo.

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O estudo aponta que, estatisticamente, os liderados percebem os líderes mulheres e homens como igualmente competentes, autênticos, benevolentes, humildes e éticos. Em relação à autopercepção, sobre como os líderes vêem a si mesmos, o cenário se repete: mulheres e homens em cargos de comando também não enxergam diferenças em termos de motivação para liderar e competências para exercer esse papel.

Esse panorama sinaliza que estamos deixando para trás antigos estereótipos, como o de que os homens são mais racionais e melhores em ciências exatas, e preconceitos, tal qual o de que as mulheres são mais sensíveis e, portanto, vulneráveis à pressão, por exemplo. Sabemos que há as mais variadas qualidades, potenciais e limitações em qualquer ser humano, independentemente do gênero, etnia, sexualidade, classe social, idade, etc.

É bom frisar que as falsas crenças sobre gêneros acabam gerando expectativas sobre um padrão feminino e outro masculino de liderar. Essa visão distorcida e discriminatória nos leva a julgar que algumas tarefas e situações não estão ao alcance de todos. Daí para o grave erro de restringir as oportunidades (salário, viagens, promoções, cargos) que são oferecidas a mulheres é um pulo.

Ao lado das boas notícias, o estudo também emite alguns sinais de alerta. Um deles é que as mulheres tendem a buscar menos promoções do que os homens. Outro indica que elas se preocupam mais do que os homens com o desequilíbrio entre vida pessoal e trabalho nos estágios mais avançados de carreira.​​

Note que as duas questões podem estar interligadas. Uma mulher que seja mãe e/ou tenha que cuidar de pais idosos (tarefas altamente concentradas na população feminina), talvez “freie” a ambição profissional em nome de demandas familiares e domésticas, estas últimas também ainda com pouca participação masculina.

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Equidade de gênero é vantagem competitiva

Trabalhar para que homens e mulheres tenham condições e oportunidades iguais no trabalho e na vida não é jogada de marketing. Além de ser uma pauta prioritária na agenda global e na construção de um mundo mais justo, a equidade de gênero representa uma vantagem competitiva para as empresas. Os motivos são vários e destaco, aqui, alguns deles:

  • Diversidade de ideias e experiências – homens e mulheres em cargos de liderança enriquecem o leque de visão de mundo, e de vivências pessoais e profissionais na empresa, contribuindo para a construção de soluções mais completas e inovadoras;
  • Aumento do engajamento – uma organização que respeita e valoriza a diversidade com ações concretas para os colaboradores, torna-se mais acolhedora e humana. O clima organizacional saudável favorece a motivação e o compromisso de todos com bons resultados;
  • Atração e retenção de talentos – empresas reconhecidas por apoiar a igualdade de gênero se destacam no mercado, sendo identificadas como responsáveis, éticas e sintonizadas com o mundo contemporâneo. Por tudo isso, elas têm mais facilidade para empregar bons profissionais.

O mesmo mote que existe para o racismo (“não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”), vale para as questões de gênero. Mais do que não serem sexistas, as empresas devem estimular francamente a equidade entre mulheres e homens. Isso envolve corrigir injustiças, combater a discriminação e promover um ambiente seguro e justo para a evolução das profissionais.

*Fernando Mantovani é diretor-geral da Robert Half para a América do Sul