Ajustar as perspectivas evita perda de oportunidades e talentos
Por Fernando Mantovani
O mercado de trabalho é, naturalmente, um terreno bastante sensível a fatores externos. E essa realidade está ainda mais acentuada nesse momento de retomada que estamos atravessando. Afinal, na realidade, a grande maioria de profissionais e empregadores têm preferido sentir a estabilidade do solo antes de dar o próximo passo. Tanto é que, neste ano, os especialistas da Robert Half estão especialmente empenhados na missão de calibrar as tendências de 2022 mapeadas no nosso já tradicional Guia Salarial. A ideia é termos um retrato cada vez mais fiel do dia a dia para que tanto nós quanto nossos clientes não percam oportunidades e talentos por conta de uma guinada inesperada do cenário.
Com base nessa recente apuração, sugiro atenção especial a cinco pontos:
1. Nacionalmente, há sinais de retomada da confiança e de contratações
Pesquisas da Robert Half mostram que 44% dos líderes entrevistados pretendem abrir novas vagas de trabalho nos próximos meses. Destes, 52% planejam preencher posições abertas, mas sem aumentar headcount, abrindo novas oportunidades para profissionais contratados por projeto, uma grande tendência do mundo corporativo. Do total, apenas 4% pretendem congelar as contratações.
2. Retenção de talentos ganha destaque nas ações do RH
Quando questionados sobre a preocupação com relação à retenção dos seus melhores talentos, apenas 11% dos líderes afirmaram não estarem preocupados, enquanto o restante dos entrevistados divide-se entre muito preocupados (40%) e um pouco preocupados (49%). O estudo mostra que a apreensão dos gestores tem sido motivada por quatro fatores: busca dos profissionais por mais qualidade de vida, abordagem agressiva da concorrência, oferta de salários e benefícios não competitivos e desmotivação do colaborador. Nesse quesito, recomendo uma reflexão mais ampla com relação ao veneno da contraproposta e aos benefícios mais valorizados nesse período pós-pandemia.
3. Atração de talentos também preocupa
Noto também que muitas organizações têm potencializado seus planos de atração por meio de mais oportunidades de desenvolvimento, da permissão de trabalho remoto ou híbrido, da oferta de mudança de cargo, do foco em iniciativas de desenvolvimento e do aumento dos salários de entrada. Tudo isso, principalmente, motivado pelo aumento do assédio aos profissionais de destaque e pela queda da taxa de desemprego dos profissionais qualificados, algo que já é frequentemente mapeado pelo Índice de Confiança Robert Half.
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4. O bem-estar do colaborador entra em pauta para ficar
Não tenho dúvidas de que, para muitas pessoas, o home office desfrutado durante a pandemia passou longe do modelo ideal. Muitos profissionais não tinham a estrutura física ou tecnológica adequada, outros dividiam o espaço com membros da família e havia ainda aqueles que agregaram à rotina os cuidados com a casa, os filhos e a própria alimentação. Isso sem falar naqueles que precisaram lidar com as consequências da Covid-19 nesse período. Como resultado, em alguns casos, imperou a falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional, com algumas pessoas tendo que amargar altas cargas de trabalho.
Acredito que a soma de parte ou do total desses fatores seja a responsável pelo fato de que quase metade dos tomadores de decisão entrevistados pela Robert Half acreditem que seus colaboradores estão mais propensos a sofrer burnout em 2022. Para lidar com a situação, os empregadores têm oferecido mais flexibilidade de horários, elevado o nível e a frequência de comunicação com o time e reforçado os benefícios de saúde e bem-estar, além de investir em um recrutamento mais estratégico, com o apoio de especialistas, para colocar as pessoas certas nas cadeiras adequadas.
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5. O mercado está especialmente aquecido nas áreas de finanças e TI
A aceleração da transformação digital e o crescimento do volume de processos de fusões e aquisições (M&A) têm movimentado bastante as áreas de TI e de Finanças e Contabilidade. Nesse cenário, a retenção de talentos passou a ser considerado o principal desafio de 2022 para 48% dos CFOs e 53% dos CIOs entrevistados pela Robert Half. Entre os diretores de TI, o cenário se torna mais desafiador diante do aumento do turnover sentido por 54% dos líderes entrevistados. Os diretores financeiros mostram-se especialmente empenhados em valorizar colaboradores com inglês fluente, facilidade de comunicação e alto conhecimento de mercado e técnico, incluindo Excel, ERP e ferramentas de BI. Apesar dos desafios, a maioria desses executivos está confiante quanto aos rumos do próprio negócio.
Como diz uma frase atribuída ao poeta Ariano Suassuna: "O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”. É por isso que, sem perder o foco no futuro e buscando encontrar oportunidades nos momentos de caos, eu prefiro manter parte da minha atenção no presente, ao que indicam os dados e os acontecimentos do aqui e agora. Acredito que, assim, é mais seguro dar passos sólidos rumo a um futuro mais possível e promissor, longe dos “achismos”.
*Fernando Mantovani é diretor geral da Robert Half para a América do Sul