Por Fernando Mantovani
Se você integra o grupo de pessoas que teme o futuro do trabalho, ofereço três conselhos: atualize-se sobre os movimentos da sua área de atuação; qualifique-se; e treine sua capacidade de adaptação às mudanças. Tenha em mente que, independentemente do que venha pela frente, pouco a pouco as tarefas, principalmente as mais operacionais, vão sofrer transformações influenciadas pelos avanços da tecnologia - e isso não tem volta.
Nos últimos anos, percebemos que transformações tecnológicas, especialmente impulsionadas pela inteligência artificial, estão redesenhando profissões de forma constante. Não se trata apenas da substituição de ferramentas antigas, como ocorreu com máquinas fotográficas ou de escrever, mas de mudanças mais rápidas e profundas na forma como trabalhamos, tomamos decisões e entregamos valor. Em vez de rupturas isoladas, vivemos uma evolução contínua, com aprimoramento de diversas funções e, ao mesmo tempo, o surgimento de novas carreiras antes inimagináveis.
Nesse cenário, os maiores impactos recaem sobre quem não acompanha essa evolução. E essa adaptação vai além do domínio de ferramentas digitais: envolve fortalecer habilidades humanas como pensamento crítico, criatividade, inteligência emocional, comunicação e capacidade de colaborar em ambientes multiculturais e híbridos. São essas soft skills, combinadas a competências tecnológicas, que preservam e ampliam a empregabilidade em um mercado dinâmico. O diferencial agora está em aprender sempre, e aprender com a tecnologia, para evoluir junto com o trabalho do futuro.
Para acompanhar esse movimento, sugiro que, de imediato, você treine ou desenvolva cinco habilidades:
#1 - Autoconhecimento
O profissional que se conhece tem mais facilidade para identificar os caminhos que deve seguir e compreende melhor o outro. Isso facilita muito o trabalho em equipe. Você pode começar a desenvolver o autoconhecimento abrindo-se para o recebimento de feedbacks.
#2 - Autocrítica
Já comentei em outro artigo que, em geral, nossa percepção sobre nós mesmos tende a ser favorável se comparado a forma como outras pessoas nos percebem. Então, faça um cruzamento sincero entre as qualificações que você possui e as que são valorizadas pelo mercado. Busque conhecimento em palestras ou cursos, sejam presenciais ou à distância.
#3 - Autogestão
Nos últimos anos, o mundo do trabalho passou por uma transformação profunda. O home office deixou de ser um benefício restrito e tornou-se parte da realidade de muitas empresas, impulsionando modelos cada vez menos hierarquizados, mais colaborativos e orientados a resultados. Hoje, seja no formato remoto ou híbrido, a autonomia ganhou protagonismo, mas ela vem acompanhada de novas responsabilidades. Para prosperar nesses modelos flexíveis, é fundamental desenvolver disciplina, capacidade de organização, autogestão e comunicação transparente com equipes e lideranças. Afinal, o sucesso do trabalho fora dos escritórios tradicionais não depende apenas da infraestrutura tecnológica, mas da maturidade profissional para manter a produtividade, o engajamento e o bem-estar mesmo à distância.
#4 - Pensamentos crítico e analítico
Procure sempre avaliar as situações como um todo, ou seja, ter a famosa visão 360 graus. Para isso, diante de situações desafiadoras ou importantes, crie o hábito de ser racional, compreendendo o cenário com imparcialidade e considerando dados e fatos, além das necessidades de todos os envolvidos.
#5 - Inteligência emocional
Já falei e vou repetir outra vez: é sempre mais inteligente tomar decisões com a cabeça e não com o estômago. Para isso, você deve desenvolver sua inteligência emocional, colocando-se no lugar do outro, de maneira empática, e dominando os próprios sentimentos. Sugiro começar pelo hábito de refletir antes de reagir e, quando necessário, evite pessoas, situações ou pensamentos que te remetem ao negativismo.
O futuro do trabalho já chegou e os líderes seguem com o desafio prioritário de encontrar colaboradores que se adequem às necessidades do negócio. Então, mantenha a empregabilidade focando em ser um profissional atrativo para o mercado e não apenas para a empresa na qual atua hoje.
*Fernando Mantovani é diretor geral da Robert Half para a América do Sul