* Por Fernando Mantovani

No ano passado, viralizou na internet o vídeo de uma videoconferência na qual um dos participantes posicionava uma foto dele em frente à câmera do computador, enquanto na realidade ele mesmo estava tomando cerveja, confortavelmente deitado em uma rede. O problema é que, por um descuido, a foto caiu e a situação real foi revelada.

Pelo que pesquisei, parece-me que o vídeo foi apenas uma brincadeira feita por um criador de efeitos visuais. De qualquer forma, quis trazer esse exemplo apenas para ilustrar o quanto pode ser constrangedor ter uma mentira descoberta e o quanto essas atitudes podem abalar a credibilidade de um profissional.

Com as pessoas trabalhando à distância, no home office ou no modelo híbrido, a confiança tornou-se primordial na relação entre empregado e empregador. Ainda que existam as ferramentas tecnológicas de gestão de tarefas, é fundamental que, no dia a dia, o líder possa confiar que o liderado está fazendo o que precisa ser feito e da maneira adequada.

Entendo que todos estamos cansados. Alguns com desafios mais severos que outros nessa missão de conciliar a vida pessoal e profissional. Mas é importante aproveitar o momento para encontrar formas de estreitar os laços de confiança com o empregador e conquistar a tão sonhada autonomia. Então, diante de uma dificuldade específica, sinalize ao gestor, no lugar de mentir.

Aproveitando a “comemoração” do famoso dia Dia da Mentira, gostaria de lembrar que, durante toda a carreira, uma mentira descoberta pode colocar em dúvida todas ou muitas verdades ditas anteriormente. Em alguns casos, podem custar a sua contratação ou a sua continuação no cargo já conquistado. Abaixo eu destaco três momentos em que as inverdades são mais prejudiciais:

1. Na procura por uma vaga

Mentir na elaboração do currículo é uma das sete principais falhas do candidato no processo seletivo. A mentira mais popular que encontro nos CVs são as relacionadas à fluência em um segundo idioma. Mas já me deparei, também, com profissionais que supervalorizam suas passagens por cargos ou empresas, demonstrando ter experiências que, na verdade, não possuem. Presenciei, ainda, casos de pessoas que disseram ter a formação superior completa, quando ainda tinham matérias a concluir. Isso em diferentes níveis hierárquicos.

2. Ao conquistar a atenção do recrutador

Antes de tudo, é importante que você saiba que um recrutador experiente vai saber como evitar e perceber uma mentira na hora da contratação. Então, ao conseguir uma entrevista de emprego, sugiro ser o mais transparente possível. Por exemplo, jamais minta sobre o seu salário, seja com relação ao emprego atual ou à oportunidade mais recente. Essa, além de não ser uma atitude profissional, ainda pode prejudicar a sua progressão na carreira. Esteja certo de que o recrutador vai confrontar o dado com estudos do mercado, profissionais da área, antigos empregadores ou registro na carteira de trabalho.

Caso tenha histórico de demissão, responda com sinceridade quanto ao motivo do desligamento, com o cuidado de não depreciar a imagem do antigo empregador, mas sim demonstrar o quanto evoluiu com a experiência. Em tempos de trabalho remoto, tenha o cuidado de ser honesto em relação à real disponibilidade para o trabalho híbrido ou presencial, habilidades comportamentais para esse novo modelo de operação, estado emocional neste momento de pandemia e existência de estrutura própria para o home office, entre outros pontos que venham a ser abordados.

3. No dia a dia como funcionário da empresa

A comunicação tem sido o grande diferencial do mundo corporativo. É por meio dessa habilidade que líderes e liderados têm se mantido próximos, mesmo à distância. Nesse sentido, procure estabelecer diálogos claros, objetivos e honestos com membros da equipe. Todos estamos passando por algum tipo de dificuldade neste período de pandemia, o que requer pessoas muito mais empáticas ao que estamos sentindo ou vivenciando.

Dessa forma, não deixe de comunicar seu gestor ou pessoas chave da companhia sobre algum problema associado à sobrecarga de trabalho, dificuldade para gerir tarefas, estado emocional, relacionamento com a equipe, falha ou equívoco em alguma tarefa ou habilidades que precisam ser aperfeiçoadas neste novo momento. Com certeza, se omitir sobre esses ou outros pontos que impactam diretamente na sua motivação e produtividade não é a melhor opção.

O mundo corporativo caminha para um modelo de gestão cada vez menos sufocante, com espaço para que os profissionais exercitem sua criatividade e seu poder de decisão. Porém, um dos passos fundamentais para conquistar a liberdade nesse modelo de operação é entender que mentir nunca esteve e nunca estará na moda.

*por Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul​