Por Fernando Mantovani
Mesmo com os avanços rumo a um ambiente corporativo mais inclusivo, barreiras invisíveis ainda dificultam o acesso equitativo ao mercado de trabalho. Vieses inconscientes e estruturas desatualizadas afetam especialmente as mulheres, limitando oportunidades e atrasando a evolução da inclusão nas empresas. O cenário, no entanto, pode - e deve - mudar.
Como estruturar processos seletivos mais justos
Com exceção às vagas afirmativas, essenciais para acelerar o processo de redução de desigualdades, o conceito de contratação baseada exclusivamente em competências técnicas e comportamentais deve ser o pilar central dos processos seletivos. O talento profissional não pode ser julgado por idade, gênero, etnia ou qualquer outra característica irrelevante para a função.
Ainda assim, os números do ICRH mostram que há um longo caminho a percorrer: 39% das organizações não possuem políticas claras para promover a igualdade de gênero, e apenas 16% estabelecem metas ou cotas para aumentar a representatividade feminina em cargos de liderança. Isso indica que, sem um compromisso real e estruturado, o progresso caminhará a passos lentos.
Por outro lado, a partir do momento em que a inclusão passa a ser tratada como uma estratégia de negócios, o desafio das empresas não é apenas “contratar mais mulheres”, mas garantir que o recrutamento seja desenhado para identificar e valorizar talentos de forma equitativa.
A seguir, destaco algumas medidas que podem fazer a diferença:
Treinamento contínuo para recrutadores: capacitar as equipes para reconhecer e mitigar vieses inconscientes é fundamental para que decisões sejam tomadas de maneira justa;
Critérios bem definidos: estruturar entrevistas e avaliações com base em competências reduz subjetividades e evita que fatores irrelevantes influenciem o processo;
Metas e indicadores: o que não é medido, não pode ser melhorado. Estabeleça metas claras para representatividade e monitore os avanços ao longo do tempo.
Inclusão como estratégia: além da contratação
A equidade de gênero não deve ser uma preocupação apenas no recrutamento. Criar um ambiente que favoreça o crescimento e retenção de talentos femininos é igualmente importante. Políticas de flexibilidade, mentorias, programas de liderança e ações estruturadas de inclusão fazem parte dessa jornada.
O mercado de trabalho está em constante transformação, e as companhias que não se adaptarem inevitavelmente ficarão para trás, seja no médio ou no longo prazo. Para atrair e reter melhores talentos no futuro, é preciso construir processos seletivos inclusivos e que abram caminhos para todas as pessoas.