Nomadismo digital ganha força
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Por Fernando Mantovani
A ideia de que é inviável ter onze meses de trabalho duro e viver bem apenas um mês por ano, nas férias, já está bastante disseminada. Sentir-se “inteiro” e satisfeito na maior parte do tempo, inclusive no horário comercial, é importante para a saúde física e mental de todos, tendo reflexos diretos na produtividade e criatividade das equipes. Pessoas felizes trabalham e vivem melhor, e empresas preocupadas em contribuir para um estado de ânimo positivo são verdadeiros ímãs de talentos.
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A novidade que agora vem ganhando força é levar o espírito das férias para o expediente. Chamado de nomadismo digital, esse movimento envolve um conceito de rotina mais livre e ousado, com a possibilidade de descobertas e experiências distintas daquelas que obtemos no dia a dia. Os nômades digitais trabalham em diferentes locais e cidades, unindo plenamente os conceitos de dever, prazer e lazer.
O que o nomadismo significa no mundo do trabalho?
O nomadismo digital amplia e renova o significado de trabalho remoto, indo muito além do home office. Tecnicamente, qualquer lugar do mundo serve de escritório para os profissionais que optam por esse caminho. Basta possuir um notebook e internet para trabalhar, e as atividades podem acontecer em um café, parque, hotel, em várias cidades ou até mesmo dando uma volta pelo mundo.
Nesse grupo, estão profissionais que abrem mão de ter uma residência fixa, em nome de explorar os mais variados destinos e vivências. E há também aqueles que viajam e voltam periodicamente para a cidade onde moram, especialmente se há filhos envolvidos. A palavra-chave para todos é flexibilidade, um dos pontos mais procurados atualmente pelos trabalhadores qualificados.
A prioridade do nômade digital não é fazer turismo, mas trabalhar, cumprir metas, resolver problemas e, no meio disso tudo, saborear uma comida típica, visitar um ponto turístico famoso ou conversar com locais. A rotina deles pode ser bem parecida com a de todos nós. No entanto, por estarem trabalhando em um destino especial de alguma maneira, acabam tendo vivências que a maioria apenas desfruta durante as férias.
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Antes mais restrito a ocupações criativas, como jornalismo, arquitetura e design, hoje o nomadismo digital ganha terreno em inúmeras profissões, como engenharia, contabilidade, administração e psicologia. Seu crescimento foi impulsionado por mudanças trazidas pela pandemia, sendo o home office a principal delas.
Com a disseminação dessa modalidade de trabalho, ficou claro para empregadores e empregados que o desempenho e os resultados dependem pouco do horário ou local de trabalho. Um bom rendimento é fruto, acima de tudo, do nível de engajamento, responsabilidade e iniciativa dos times.
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Planejamento é essencial para unir trabalho e viagem
Para os interessados, é bom lembrar que o nomadismo digital não é sinônimo de aventura ou perigo. Conciliar trabalho e viagens requer muito planejamento antes de colocar o pé na estrada. A seguir, destaco algumas recomendações importantes para construir uma experiência bem-sucedida:
- infraestrutura – é básico saber de antemão se o destino desejado oferece boas condições de trabalho, o que inclui de internet estável a acesso a um bom hospital, em caso de emergência;
- custo de vida – além de interessante e minimamente bem estruturado, o local escolhido precisa ser viável financeiramente. Despesas com estadia, alimentação, transporte, saúde, entre outros, farão parte da nova rotina;
- segurança – cidades que se destacam pela violência urbana ou em guerra são totalmente desaconselháveis por razões óbvias. Se já é difícil para um local enfrentar situações de risco, imagine para quem não é morador e precisa trabalhar;
- bagagem – para garantir a liberdade de movimento e viajar bastante, quanto menos bagagem, melhor. Menos quer dizer menor volume de itens bem como menor valor dos objetos levados, para evitar roubos e furtos.
O primeiro desafio do nômade digital costuma ser a adesão e o apoio da empresa em que trabalha para esse projeto. Profissionais que trabalham longe do escritório e viajando pelo mundo são comuns em startups, mas nem tanto em organizações convencionais. Esse cenário, entretanto, vem se transformando aos poucos.
Algumas companhias já perceberam que abrir-se para essa nova tendência é uma salutar via de mão dupla. Apostar no profissional que deseja aderir ao nomadismo digital aumenta a aposta dele próprio na empresa, e todos saem ganhando em respeito, admiração e compromisso.
*Fernando Mantovani é diretor-geral da Robert Half para a América do Sul e autor do livro Para quem está na chuva… e não quer se molhar
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