Por Fernando Mantovani

Existe uma máxima no mercado de trabalho que diz que “pessoas são contratadas pelo perfil técnico e demitidas pelo comportamento”. Eu, particularmente, vejo muito sentido nessa afirmação. Acredito que seja muito mais fácil ensinar um método, um processo ou o uso de uma tecnologia a alguém do que convencer essa mesma pessoa a ser gentil com um colega de equipe, manter a calma em momentos de pressão, lidar com um colega que tenha um temperamento difícil ou se controlar para não ser essa pessoa desafiadora. Isso apenas para citar alguns exemplos.

Gostaria de compartilhar, para a sua reflexão, quatro considerações sobre a relevância e as influências do comportamento no ambiente de trabalho:

1. Trata-se de um fator relevante na contratação

Na pesquisa Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho, realizada pela The School of Life em parceria com a Robert Half, os 296 líderes entrevistados praticamente se dividem quanto ao fator mais importante para avaliar um candidato no momento da contratação. Do total, 55,74% dizem valorizar mais o comportamento, enquanto 43,58% prioriza a avaliação do conhecimento e da experiência do profissional.

2. Tende a causar demissão

Dos líderes entrevistados, 60,47% já demitiram um colaborador por atitudes ou comentários inconvenientes ou incompatíveis com o ambiente ou a cultura da empresa. Entre os 195 liderados entrevistados, 3,59% admitiram já terem sido demitidos por mau comportamento, enquanto uma parcela (6,15%) se divide entre os que não souberam responder ou os que acreditam que talvez isso tenha acontecido.

3. Pode motivar pedido de desligamento

Pouco mais da metade dos liderados entrevistados (52,31%) afirmaram que já pediram demissão motivados pelo mau relacionamento com um líder ou membro da equipe. Aqui, aliás, vale um lembrete quanto ao veneno da contraproposta. Afinal, por mais atrativa que seja a proposta financeira, se o pedido de desligamento tem a ver com um ambiente desagradável, no médio ou longo prazo, o profissional que ameaçou sair, mas resolveu ficar por um salário maior, tende a se abrir para o mercado novamente.

4. É muito avaliado em cargos estratégicos

Já ouvi alguns profissionais se queixando de que colecionam importantes certificações no currículo, mas ainda não conseguiram ser alçados a um cargo de liderança. Em geral, isso acontece porque, apesar da evidente relevância do conhecimento técnico, apenas formação acadêmica e títulos não tornam uma pessoa elegível a um cargo de gestão. O ideal é que esse profissional saiba se comunicar e estabelecer bons relacionamentos, além de ter equilíbrio emocional, demonstrar abertura ao diálogo e ser verdadeiramente comprometido com prazos e qualidade.

Dentro de uma empresa, as funções estão cada vez mais interligadas e as equipes, cada vez mais diversas em todos os sentidos possíveis. Para aproveitar melhor esse ambiente tão sem fronteiras e o melhor de cada um dos diferentes perfis, é fundamental que a organização invista em contratações estratégicas e em planos de atração e retenção de talentos condizentes com desejos, necessidades e expectativas atuais dos profissionais

Aos profissionais em geral deixo uma informação: dentro e fora da empresa, tem sempre alguém importante de olho no seu comportamento. Entre essas pessoas podem estar algumas capazes de te contratar, indicar para uma promoção ou vetar o seu progresso na carreira. Cabe a você dar motivos para que ela te ajude a desbravar novos e promissores caminhos.

* Fernando Mantovani, diretor geral da Robert Half para a América do Sul e autor do livro Para quem está na chuva… e não quer se molhar

Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho

Estudo produzido pela The School of Life, referência no ensino da inteligência emocional, em parceria com a Robert Half