Mês do Orgulho LGBTQIAP+: uma conversa com o Diretor da Protiviti, Belton Flournoy
- Em relação à diversidade e inclusão, quais são os principais desafios enfrentados pelas empresas?
- O que deve ser considerado antes de criar um grupo ou iniciativa LGBTQIAP+?
- Seu trabalho com a Pride in the City envolveu a organização de eventos LGBTQIAP+ para empresas por toda a cidade de Londres. Na sua opinião, o que torna um evento verdadeiramente impactante?
- Você sempre menciona bastante a sua paixão pela interseccionalidade. Você pode nos explicar o significado desse termo e contar para as pessoas sobre como elas podem se conscientizar mais sobre o assunto no dia a dia?
- Quais são os próximos passos para as iniciativas de inclusão baseadas na comunidade e que desafios impedem esse progresso?
- Mencione quais são as maneiras mais acessíveis para que pessoas possam apoiar as comunidades LGBTQIAP+ nos locais onde vivem.
- Quais são os eventos relacionados ao Orgulho que você mais gostar de participar anualmente?
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O Mês do Orgulho é um convite à reflexão para que as pessoas se envolvam com as comunidades LGBTQIAP+ de forma social e profissional. Pensando na mudança que os eventos, grupos e iniciativas relacionadas ao tema podem proporcionar, nós nos sentamos para conversar com o Diretor de Technology consulting practice da Protiviti, Belton Flournoy.
Membro fundador da Rede Protiviti UK LGBTQ+, Belton fundou a Pride in the City for Pride em Londres e apoia a The Inclusivity Initiative for the LSE (Iniciativa de Inclusividade para a Bolsa de Valores de Londres) além de diversas outras organizações ligadas à diversidade, inclusão e equidade.
Conversamos com ele sobre o que significa interseccionalidade, como criar grupos eficazes voltados à causa LGBTQIAP+ e outras iniciativas relativas ao tema. Confira!
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Em relação à diversidade e inclusão, quais são os principais desafios enfrentados pelas empresas?
Muitas empresas falam sobre os desafios de contratar uma força de trabalho etnicamente diversa. Um escritório de advocadia nos EUA, por exemplo, inseriu uma meta de diversidade atrelada à sua política de entrevistas. Isso acabou não funcionando, o recrutamento nas universidades muito menos, então eles decidiram trazer pessoas diversas para falar com alunos do ensino médio americano. Eles perceberam que muitas delas não queriam estudar pois não viam pessoas como elas nos programas bacanas que passavam na TV. Ou seja, não basta focar em soluções práticas ou lógicas para sanar o problema, é preciso usar os dados para entender o que precisa ser mudado, e adaptá-los de forma contínua. Muitas empresas empregam este primeiro passo e ficam orgulhosas disso, mas não fazem uma análise racional, nem avaliam a eficácia dessa política.
Outro elemento que vem à tona é a “assimilação X diversidade”. Muitas vezes, quando as organizações falam que querem criar uma força de trabalho diversificada, elas realmente querem contratar pessoas que parecem diferentes, mas agem exatamente como elas.
Temos que reconhecer que nem sempre estamos dispostos a assimilar. Queremos encontrar pessoas aptas a fazer o trabalho. E você pode ficar com uma impressão errada dessas pessoas se você for um líder, pois você está acostumado a trabalhar com pessoas que são como você, que pensam de maneira parecida. Mas essa mudança de mentalidade é o que leva as empresas a serem mais bem sucedidas.
O que deve ser considerado antes de criar um grupo ou iniciativa LGBTQIAP+?
Se você tem um Grupo de Afinidade dentro de uma empresa, você precisa entender quais objetivos você quer alcançar. Se você está apenas escolhendo fatos ao acaso, você não será capaz de conduzir os resultados que realmente deseja. Então, concentre-se no que você quer e faça isso no primeiro, segundo e terceiro ano, ao invés de fazer diversas coisas sem foco.
Quando se trata de pessoas que retribuem como indivíduos, o primeiro passo é ser voluntário para uma organização. Não espere pela organização certa. Encontre qualquer organização porque entrar no hábito é a parte mais difícil do trabalho voluntário. E uma vez que você o faz, ele se torna parte de quem você é e a pessoa certa se apresentará.
Seu trabalho com a Pride in the City envolveu a organização de eventos LGBTQIAP+ para empresas por toda a cidade de Londres. Na sua opinião, o que torna um evento verdadeiramente impactante?
Histórias e conexões emocionais, especialmente sobre as vulnerabilidades dos líderes. Além disso, tente convidar parceiros de caridade para fazer uma abertura de 10 minutos sobre o porquê eles trabalham em sua instituição de caridade antes do evento e depois faça uma arrecadação de fundos em torno disso. Isso traz uma conexão emocional a qualquer tópico de que você esteja falando, e as pessoas respondem bem a uma história impactante.
Eu acho que também é importante focar em levar novas pessoas a eventos por meio de colaborações cruzadas. Se você anunciar o evento para cada um dos grupos, você terá pessoas que normalmente não viriam a grupos LGBTQIAP+ comparecendo e oferecendo seu apoio. Nós não queremos pregar para o coral; você quer alcançar novas pessoas. E, não se esqueça de fazer o acompanhamento depois!
Você sempre menciona bastante a sua paixão pela interseccionalidade. Você pode nos explicar o significado desse termo e contar para as pessoas sobre como elas podem se conscientizar mais sobre o assunto no dia a dia?
Interseccionalidade foi originalmente cunhada por uma acadêmica feminina negra que estava tentando descrever a experiência única de negra e mulher. Depois, o termo foi estendido para questões feministas mais amplas antes de refletir o conjunto mais amplo de categorias que atualmente presenta. Interseccionalidade é respeitar que as pessoas não são um elemento único.
Nós precisamos ter certeza de que nos concentramos nisso em todas as categorias de pessoas. Você verá eventos LGBTQIAP+ dizendo, "estamos focando em bi ou trans ou assexual", mas você não vê esses eventos focando nas relações raciais dentro da comunidade LGBTQIAP+. Trata-se de entender os grupos minoritários dentro dos grupos minoritários e dar-lhes uma plataforma.
Quais são os próximos passos para as iniciativas de inclusão baseadas na comunidade e que desafios impedem esse progresso?
Quando falamos de desafios, eu gosto de separá-los em grandes comunidades corporativas e comunidades de pequenas e médias empresas.
Entre uma grande comunidade corporativa, trata-se de fazer com que as pessoas se sintam confortáveis no início de suas carreiras. Apenas 32% das pessoas LGBTQIAP+ trabalham nos primeiros anos de sua carreira em comparação com 80% na liderança executiva sênior, de acordo com um relatório da McKinsey. As organizações precisam fazer mais para ajudar a educar os gerentes – desta forma, é possível obter um maior rendimento das pessoas se elas sentirem que elas podem ser elas mesmas.
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Agora, o outro elemento está focado em organizações de pequeno e médio porte. Algumas empresas menores estão perdendo talento por razões que não entendem, porque não têm dinheiro para investir em ter uma conversa com um profissional de Diversidade e Inclusão. Eu acho que as é importante que as pessoas encontrem maneiras de apoiar organizações de pequeno e médio porte, compartilhando a evolução do que o Orgulho tem sido capaz de alcançar nos últimos 50 anos.
Mencione quais são as maneiras mais acessíveis para que pessoas possam apoiar as comunidades LGBTQIAP+ nos locais onde vivem.
Entre no Google, pesquise “LGBTQIAP+” e o nome do seu Conselho Municipal. Eu vivi no meu conselho local por dois anos antes de descobrir que havia uma comunidade LGBTQIAP+ local para a qual eu poderia doar. Você começa a perceber que existem muitas comunidades ao redor; nós simplesmente não sabemos que elas existem.
A segunda coisa é doar seu tempo ou suas habilidades a uma instituição de caridade. Muitas pessoas pensam que as instituições de caridade precisam de doações quando, na realidade, elas também precisam de habilidades. Às vezes, seu conhecimento ou seu tempo podem ser mais valiosos do que seu dinheiro.
Quais são os eventos relacionados ao Orgulho que você mais gostar de participar anualmente?
Os que eu mais gosto são os que impactam minha jornada de aprendizado. Um que se destacou foi um evento sobre inclusão trans e eles compartilharam algo chamado “Genderbread Person” (sim, isso existe, dê um google). Eles falaram sobre como as pessoas podem ter uma escala móvel de como se apresentam e por quem se sentem sexualmente atraídas, de homem para mulher e tudo o que está entre eles. Isso me abriu muito os olhos.
Outro evento muito legal que eu realizei ano passado para o Orgulho foi centrado no uso dos pronomes. O nome desse evento foi Hey, You Guys. Ele foi fantástico pois não se concentrava apenas no motivo do uso de pronomes de gênero. Ele era focado no uso de pronomes em saudações e linguagem, tais como abrir reuniões dizendo "ei, rapazes" (hey, you guys em inglês) e sobre como isso poderia fazer com que as mulheres se sentissem deslocadas nessa situação.
Dentre os eventos realizados em Londres, eu amo o Attitude Awards e o British LGBT Awards. Especialmente quando sou convidado!